terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Oscar Niemeyer, Darcy Ribeiro e o Sambódromo


O Carnaval Carioca de 2012 foi diferente. Marca a renovação do Sambódromo, com a construção das arquibancadas do lado direito, quase que, exatamente igual ao projeto original de um tal de Oscar Niemeyer.

O Sambódromo, inaugurada em 1984, é resultado de uma, das muitas, viagens do Darcy Ribeiro. São muitos os fatos curiosos, relacionados ao projeto!

Cito, por exemplo, o espaço lá do final que o Darcy chamou de Apoteose. Não sendo ele exatamente um especialista em desfiles de escolas de samba, sacou de uma dessas elucubrações, a imagem linda, maravilhosa, socializante, que ocorreria depois de encerrado o desfile oficial (cronometragem encerrada) com cada escola se encontrando com o povo e, tudo misturado, houvesse uma confraternização, anárquica, porém alegre, feliz, uma “geléia geral”.

No primeiro ano, novidade absoluta, as escolas não sabiam o que fazer e como usar o novo espaço. Com o passar do tempo, aquela área acabou servindo para facilitar a dispersão das escolas e seus monstruosos carros alegóricos e para os megas eventos e espetáculos musicais.

Outro episódio interessante foi uma reportagem do “Jornal Hoje”, da Globo[1], por ocasião da inauguração. Foi mais ou menos assim: a repórter levou o Oscar Niemeyer para andar no piso do Sambódromo, no dia que iria ocorrer o primeiro desfile[2]. Era uma entrada “ao vivo” e encerraria a edição daquele dia. Foram andando e ela dizendo algo semelhante a “...estão dizendo que a obra é cara, que descaracterizará a cultura popular, vai virar um ‘elefante branco...”. Ele, andando e, ouvindo pacientemente. Um dado momento ela parou e ficou esperando a reação dele para a provocação. Ele, então falou, sem expressar muita emoção, sem alterar o tom de voz, apenas fez um gesto de abrir os braços, de forma mais ampla: “É, taí...”. O conjunto, voz + expressão corporal, eu assim interpretei, na verdade, estava dizendo: “É, vocês que sempre criticam, sempre procuram um lado político, desta vez vão se ferrar”. Nota importante: o governador era Brizola, Darcy era o Secretário de Educação e Oscar, comunista assumido. Fica claro que a coisa não seria muito fácil.

Depois disso, a ideia acabou se alastrando, pelo Brasil afora, em muitos Estados[3]. Lá já aconteceram shows de música, cultos evangélicos, exibições de motociclismo, lutas marciais, ópera etc. Alguns desses promovidos ou apoiados pela Globo!

As curvas do tempo
Revan
Ano: 1998
294 páginas
395g

Por meio do livro “As curvas do tempo” pode ser conhecida a versão de Niemeyer para tantos episódios da recente história brasileira. Nesse livro ficam revelados pontos essenciais da personalidade dele, no campo político e sua militância, no lado humano, a proteger e valorizar as pessoas, em geral e particularmente aquelas que com ele conviveram e conquistaram o seu gostar. 

Por exemplo, na página 98[4] ele fala de um amigo e parceiro, que passou por momentos dramáticos com o episódio da queda da cobertura do Parque de Exposições da Gameleira (Belo Horizonte – MG): Joaquim Cardozo, responsável de muitas das obras projetadas por Niemeyer. Faz a defesa, sutil, do amigo e poeta.

Mas, isso é história para outra postagem que, prometo, sobre a qual, voltarei a escrever.

Vale a pena ler o capítulo e o livro.



[1] Já procurei o vídeo no Youtube e não achei.
[2] Acho que a repórter era uma negra, de nome Ana ou Ângela Davis. Quem souber, ajude aí.
[3] Para conhecer outras "passarelas do samba", inspiradass no Sambódromo do Rio:  http://pt.wikipedia.org/wiki/Samb%C3%B3dromo
[4] O livro não é dividido em capítulos, não tem índice!