segunda-feira, 16 de julho de 2012

O Darcy (Ribeiro) de Vera Brant


"Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu".
São poucas as pessoas com as quais eu já tenha prosado, por algumas poucas horas que seja, e não tenha me ouvido discursar sobre Darcy Ribeiro.
O meu discurso se repete e afirmo, convicto, que meia dúzia de darcys faria do Brasil a maior geleia geral, onde e quando todos seriam felizes, por decreto ou não. Nesse Brasil de Darcy Ribeiro, seria proibida a tristeza e ficaria garantido, a todos, o direito de se indignar quando bem entendesse.
O seu lado irônico e jocoso se manifestou quando apoiou a volta do regime monárquico. Impôs uma condição: se o novo/velho regime fosse adotado queria ser Rei do Brasil. Considerava-se capacitado para tal e achava charmosa a ideia de ser rei. Dizia isso e ria, muito. Prazeirosamente.
Darcy foi assim: brasileiro, verdadeiramente brasileiro; um furacão de ideias; uma metralhadora ao falar; um apaixonado pelas causas da educação, das questões indígenas; um sonhador. Uma grande capacidade de fazer muitos amigos e poucos inimigos.
Em parceria com Oscar Niemeyer, tendo como coadjuvante o Brizola, criou o Sambódromo do Rio de Janeiro e os CIEP, uma adaptação do modelo francês de educação básica; projetou, engendrou e foi o primeiro Reitor da Universidade de Brasília; idem a Universidade Estadual do Norte Fluminense (nome oficial Universidade Darcy Ribeiro); um dos últimos feitos foi a LDB (conhecida como Lei Darcy Ribeiro), em vigor que teve o seu dedo e a sua relatoria.
O texto aprovado introduz algumas novidades e avanços que, até hoje, encontram resistência dos grupos conservadores e que fazem do ensino uma mera atividade comercial. Entre elas, a qualificação mínima para a prática da docência, implicando em qualidade no ensino e salários mais justos professores e carreiras correlatas. Mas, isso é história para outra postagem...
Essa fixação no tema Darcy me faz ler tudo que esteja disponível sobre ele. E não encontrei muita coisa, não. Tem uma diferença entre o que ele escreveu e o que escreveram sobre ele. Eu, particularmente, não li os romances que ele escreveu. Tenho todos, folheei e guardei, pois acho que o forte, o bom mesmo foi quando ele escreveu O povo brasileiro (um resumo aqui, e aqui), Confissões, Testemunho, etc.
Recentemente ganhei um livro, escrito pela Vera Brant.  Estou acabando de ler (e, claro, junto com mais outros três, como de costume).
Editora: PAZ E TERRA
Ano: 2002
Páginas: 144
É um bom livro. Tem muitas informações sobre o Darcy, mas não é uma biografia. Conta casos envolvendo um monte de pessoas que se tornaram famosas por força de atividades políticas, principalmente nos anos 50, 60 e 70.
Estou próximo do fim e fica a impressão de que o livro é sobre a Vera e o seu relacionamento social, político e de amizade com aquelas figuras, citadas ali atrás. Darcy Ribeiro entra no livro como coadjuvante e pretexto para a Vera demonstrar o extenso círculo de amizade, composto dos mais variados matizes, que conseguiu desenvolver.
Vou continuar, até terminar a leitura, na expectativa de que saberei de mais algumas curiosidades e fofoquinhas do Darcy e daquele período.
Vera Brant tem uma história muito bonita e merece ser conhecida (saiba mais, lendo aqui, e aqui), mas acho que o livro, simplesmente chamado de Darcy não é justo. Sugestão de título para a próxima edição: Eu e Darcy.
O livro está disponível no meu acervo e espero que não esteja “marcando um gol contra”, fazendo propaganda negativa e prejudicando a sua venda. Para quem gosta, conhece, ou quer começar a conhecer e gostar dele, é uma leitura importante. Na pior das hipóteses, ficará sabendo alguma história de bastidor envolvendo as principais personagens de um período recente do nosso passado político, o que já justifica a leitura.
Para conhecer o que Darcy Ribeiro publicou, clique aqui.



terça-feira, 22 de maio de 2012

Condessa de Barral dava para D. Pedro II e eu não sabia



Estava eu voltando de São Paulo, após dois maravilhosos encontros-almoço com o “pessoal da antiga”, com duas maletas (ou bolsas) prenhas de livros doados pela Cidinha e pensando em comprar uma revista ou um jornal para aguardar as duas horas que faltavam para o meu voo.

Na verdade, antes de pensar em comprar alguma coisa para ler, estava mesmo e lamentando o tanto de livros que deixei para trás, por excederem o limite de peso.

Então falei (para mim mesmo, é claro): caramba! 20 quilos de livro e será que nenhum, mas nenhum deles serviria para me ocupar nas próximas duas horas. Sim (respondi, para mim mesmo, em pensamento).

Usei um critério científico. Escolhi um fino e não muito pesado (477g), conveniente para a situação. Foi sorte e ele se incluiu, quase que por vontade própria, de maneira muito oferecida, na minha lista dos “que estou lendo”, simultaneamente. Eis, então, que fui apresentado à “Condessa de Barral – paixão do Imperador”, de Mary Del Priore.  “Mesmo casada, estabeleceu um relacionamento de décadas com o monarca”. E ninguém me contou nada?

O livro é interessante porque a Mary (que intimidade, não?) fala das coisas como eram, na época. Começa contando a história de Barral, mesmo antes de ela nascer. Tudo é história tudo é com base em documentos. Mary é pós-doutora em história. Mais de 20 livros sobre a História do Brasil. Inúmeros prêmios. Eu acredito no que ela escreve e gosto. Sinto como se eu estivesse vendo e sentindo as coisas acontecendo. Muito bom. Estou na metade e recomendo. Eu já sei que esse livro será daqueles que quando acabar ficarei com a sensação de “quero mais”, “que pena que acabou”.

É uma edição da Objetiva e (muito chato isso (1)) não encontrei o ano de edição!


Olha a capa do meu exemplar. Não gosto da cor e acho que a arte escolhida faz passar batido.
Condessa de Barral: a paixão do Imperador
Objetiva
2008
ISBN: 978-85-7302-923-9
260 páginas
497g




(1) Obs.: quando acabei de ler encontrei a ficha catalográfica, na última página! E sobre o livro, melhor do que imaginava. Fiquei com saudade. Com pena de ter acabado. Muito bom! Muito bem escrito.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Cuidando da saúde dos nossos amigos livros / dos livros nossos amigos


Ao iniciar essa atividade de “livreiro de livros seminovos” o meu acervo era reduzido. Aumentou um pouco, mas (ainda) não é nada de tão fantástico. Mesmo assim, já demostra que preciso adotar práticas de conservação.
Antes de coloca-los nas prateleiras, fazia uma higienização e pronto: estava resolvido o problema de limpeza e conservação. Alguns, por motivos diversos, estavam embalados, envoltos por plástico ou, até mesmo, prontos para entrega ao Correios, outros prensados “para caber mais na prateleira”. E assim a vida (dos meus livros) seguia.
Um dia desses busquei no GMI (Grande Mestre dos Ignorantes, Google, para os mais íntimos) informações sobre conservação de livros.
Resultado: verifiquei que estava fazendo um montão de coisas, digamos, inadequadas.
Já estou revendo minhas práticas e tratando os meus amigos livros com mais cuidado e carinho.
Nos links abaixo, estão umas informações sobre o assunto:
Como conservar seus livros - Elisa Mello Kerr

Noções Básicas de Conservação deLivros e Documentos - Maria Aparecida de Vries Mársico



Antecipo algumas informações – aperitivo:
  • O livro deve ficar em pé, formando um ângulo reto com a prateleira, já encostado ao próximo livro, um ao lado do outro.
  • Evite pressioná-los um contra o outro; o livro precisa deslizar suavemente ao ser retirado da estante. É fundamental que isso ocorra sem que haja qualquer atrito entre eles. Caso contrário, será necessário segurá-lo com força pela lombada, o que o danificaria.
  • Nunca vire a página de um livro ou revista molhando o dedo na língua. Podem-se atrair insetos e roedores ao se deixarem vestígios de alimentos dentro dos livros. Pode também ser prejudicial a você, por não saber quem foi o último a molhar o dedo para trocar de página.
  • Grandes quantidades de livros são pesadas. Dê atenção a espessura das prateleiras.
  • Não guarde os livros acondicionados em sacos plásticos, pois isto impede a respiração adequada do papel.
  • Evite encapar os livros com papel pardo ou similar. Essa aparente proteção contra a poeira causa, na realidade, mais dano do que benefício ao volume em médio e curto prazo. O papel tipo pardo, de natureza ácida, transmite seu teor ácido para os materiais que estiver envolvendo (migração ácida).
  • Deixe sempre um espaço entre estantes e parede. A parede pode transmitir umidade aos livros. E, com a umidade, surgem os fungos.
  • Não use clipes como marcadores de páginas. O processo de oxidação do metal mancha e estraga o papel.
  • Não guarde livros inclinados. Aparadores podem mantê-los retos.
  • Quando tirar um livro da prateleira, não o puxe pela parte superior da lombada, pois isso danifica a encadernação. O certo é empurrar os volumes dos dois lados e puxar o volume desejado pelo meio da lombada.

Lá nos textos indicados, tem muitas outras informações importantes sobre conservação dos nossos amigos.

Agora, se for para tratar o assunto “profissionalmente”, tem o Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos - CPBA.

Vamos lá! Todos cuidando da saúde dos nossos amigos livros / dos livros nossos amigos!


Não deixe de visitar o LIVRONAUTA.

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N.A. as fotos usadas nesta postagem foram obtidas em pesquisa no Google. Não encontrei autoria declarada ou, quando presente a autoria, não faziam restrições ao uso sem finalidade comercial.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Os amigos voltaram


Recentemente, retomei o contato com alguns amigos, pessoas com as quais convivi e compartilhei momentos importantes da minha vida, em passado não tão próximo.

Em todos os casos, aparentemente, encontrei-os em situação melhor do que quando eu deixei. Deixei no sentido de que eu voltei a morar em Vitória, depois de 16 anos de São Paulo e eles, que são de lá, lá ficaram.

Em um desses daria história para novela ou livro de sucesso, com o tema, se eu pude reconstruir minha vida, você também pode! Se escrita como ficção, muitos diriam: não acontece na vida real. E aconteceu!

Esses reencontros fizeram com que eu gastasse um bom tempo para digitar mensagens e mais mensagens combinando troca de arquivos, dicas, encontros, almoços, etc. (que ocorrerão em maio próximo).

Isso me fez divagar sobre a grande mudança na forma como estão ocorrendo nossos contatos e as nossas relações pessoais, ao longo desses últimos 20, 30 anos.

Na “minha época” a gente dizia “estou ligando para lhe contar...”. Também, escreviam-se cartas para amigos, amigas e namoradas (tinha anexos!). Hoje, a gente escreve, muito, numa linguagem própria e nem passa perto do correio. Encontros são realizados via skypes da vida, bancos são visitados virtualmente, livros novos ou usados são vistos, lidos e comprados de longe, sem tocá-los, etc., etc...

Então, hoje, “estou ligando para contar” que, entre um “banho de bar”, um passeio com o Chico (um pastor alemão, que pensa ser um pequinês), uma ida ao Shopping Alvares Cabral para um chope com camarão e ver aviões pousando, resolvi vender meus livros, que fui juntando ao longo de muitos anos. A maior parte comprada em sebos de São Paulo.

Não quero vender todos, mas a maioria entrou no “corredor da morte”. Ficarão aqueles que guardam alguma relação com emoção, sentimento, amizade.

Comecei no início de novembro do ano passado e passei a me divertir com essa atividade de “empresário do ramo de vendas por meio eletrônico de livros seminovos”, ou seja, sebo online!

A coisa vai indo e tenho vendido muitos livros (“muitos” não diz muita coisa, não é mesmo?). Já sou conhecido do pessoal dos Correios: quase todos os dias estou por lá. 

Agora, estou diante da situação de ter gostado e querer continuar. Não se trata de vender os meus livros. Trata-se de vender livros, pronto. Para isso, entre várias coisas, três são fundamentais: preciso ter livros que atraiam clientes; preciso que os clientes potenciais saibam que eu tenho esses livros; preciso encontrar esses livros para comprar!

Para vender tenho o suporte e a divulgação do meu acervo pelo Livronauta, um portal de agregação de livreiros e sebeiros, muito bom. Quem não foi até lá não sabe o que está perdendo (fazendo o meu “merchan”).

Então mãos à massa: dê uma olhada nas estantes, prateleiras, no banheiro, nas gavetas, etc. e livre-se desse incômodo de ficar guardando livros que não lhe servirão mais. Eu farei o “favor” de recuperar muitos espaços, perdidos em sua casa com essas inutilidades e levar a alguém a leitura que ela procura, precisa, deseja.

Vamos lá. Todos. Arrumação já.

Visite meu acervo: Luiz Cesar Livros



sexta-feira, 2 de março de 2012

Na nossa vida algumas coisas são bem pessoais


Na nossa vida algumas coisas são bem pessoais. Muito pessoais. Cueca, por exemplo. No meu caso, homem, cueca e pessoal e intransferível. Nem gosto de olhar a de outras pessoas, nem dos meus filhos. Defeito de criação, preconceito, ou seja lá o que for.

Tem outras coisas que classifico como pessoais, intransferíveis, insubstituíveis. Vamos ao “causo”.

Na semana seguinte ao Carnaval eu viajei e fiquei cindo dias longe do meu reduto. Foi tudo muito legal, foi tudo muito bom. Encontrei com pessoas que eu gosto e viajei acompanhado de pessoas que, também, gosto muito.

Mas, os momentos finais foram de sofrimento. Não é questão de idade, coisa nenhuma. Sempre fui assim. Vou já pensando na hora de voltar.

Cheguei em casa e alcancei o alívio. Melhor dizer, dois alívios. Explico.

Alívio um: meu micro, minhas “caixas de entrada”, acessadas com o meu teclado e o meu mause (não é “mouse”, não!). Sinto dificuldade e angustia ao usar micros de “terceiros”. Tudo é diferente e não acho as coisas, os ícones, que preciso. Minha mesa, minha cadeira, meu monitor, minhas caixinhas de som, o calor infernal do meu “escritório”.

Alívio dois: o vaso sanitário, da minha casa, seja qual for a casa do momento, é único, confortável, amistoso, cheiroso (quase sempre). Cinco dias de saudade. Nesse período cometi algumas traições, pois não dava para segurar por tanto tempo. Na hora que cheguei, nem precisava dos serviços dele, mas só em vê-lo deu um baita alívio.

Aí, essa história toda, me faz lembrar da velha questão Preço X Valor.




quinta-feira, 1 de março de 2012

Banho de Bar (eu disse BAR!)

Moro a 500m de uma praia, muito bonita, muito agradável. Digo ao mundo, em geral, que são 300m, para causar mais impacto e inveja. 

Fico imaginado os meus amigos paulistas (muitos) e meus amigos mineiros (mais, ainda), que moram muitos quilômetros distantes do litoral. Pena!

Estou nessa situação privilegiada há, aproximadamente, cinco anos.

Nessa praia, Camburi, estão as barracas-perdição, com um cardápio de médio para fraco, chuveiro para os banhistas, um tanto meio que não muito bom e sanitários para qualquer um que “ninguém merece”.

Esse é o meu “banho de bar”.

Nesses, quase, cinco anos, entrei no mar, naquela água salgada e, sempre, fria duas vezes! Não gosto de água fria, não gosto do sal da água, não gosto de areia acumulada junto com as “minhas coisas”. Gosto mesmo é do “banho de bar”. 



Fico lá, lendo um dos cinco livros que sempre estou lendo simultaneamente, próximo do chuveiro para melhor “apreciar a paisagem”. Misturo umas cervejinhas (R$ 4,00) com uma porção de camarão, por R$ 10,00, ou pedaços de peixe (gurjão?), por R$ 15,00.

Depois de tentar avançar a leitura do livro de plantão (consigo, no máximo umas cinco páginas), volto para casa com a segurança de que deixei de cadastrar um tantão de livros no meu acervo.

Saio prometendo que vou me dedicar mais à minha nova atividade empresarial/intelectual e, passados alguns dias, estou de volta à mesma mesa, da mesma barraca.

E é assim que me sinto feliz, por não ter compromisso com o definitivo, com a obrigação, com comandos e controles (e alunos, redundantemente, chatos).

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Oscar Niemeyer, Darcy Ribeiro e o Sambódromo


O Carnaval Carioca de 2012 foi diferente. Marca a renovação do Sambódromo, com a construção das arquibancadas do lado direito, quase que, exatamente igual ao projeto original de um tal de Oscar Niemeyer.

O Sambódromo, inaugurada em 1984, é resultado de uma, das muitas, viagens do Darcy Ribeiro. São muitos os fatos curiosos, relacionados ao projeto!

Cito, por exemplo, o espaço lá do final que o Darcy chamou de Apoteose. Não sendo ele exatamente um especialista em desfiles de escolas de samba, sacou de uma dessas elucubrações, a imagem linda, maravilhosa, socializante, que ocorreria depois de encerrado o desfile oficial (cronometragem encerrada) com cada escola se encontrando com o povo e, tudo misturado, houvesse uma confraternização, anárquica, porém alegre, feliz, uma “geléia geral”.

No primeiro ano, novidade absoluta, as escolas não sabiam o que fazer e como usar o novo espaço. Com o passar do tempo, aquela área acabou servindo para facilitar a dispersão das escolas e seus monstruosos carros alegóricos e para os megas eventos e espetáculos musicais.

Outro episódio interessante foi uma reportagem do “Jornal Hoje”, da Globo[1], por ocasião da inauguração. Foi mais ou menos assim: a repórter levou o Oscar Niemeyer para andar no piso do Sambódromo, no dia que iria ocorrer o primeiro desfile[2]. Era uma entrada “ao vivo” e encerraria a edição daquele dia. Foram andando e ela dizendo algo semelhante a “...estão dizendo que a obra é cara, que descaracterizará a cultura popular, vai virar um ‘elefante branco...”. Ele, andando e, ouvindo pacientemente. Um dado momento ela parou e ficou esperando a reação dele para a provocação. Ele, então falou, sem expressar muita emoção, sem alterar o tom de voz, apenas fez um gesto de abrir os braços, de forma mais ampla: “É, taí...”. O conjunto, voz + expressão corporal, eu assim interpretei, na verdade, estava dizendo: “É, vocês que sempre criticam, sempre procuram um lado político, desta vez vão se ferrar”. Nota importante: o governador era Brizola, Darcy era o Secretário de Educação e Oscar, comunista assumido. Fica claro que a coisa não seria muito fácil.

Depois disso, a ideia acabou se alastrando, pelo Brasil afora, em muitos Estados[3]. Lá já aconteceram shows de música, cultos evangélicos, exibições de motociclismo, lutas marciais, ópera etc. Alguns desses promovidos ou apoiados pela Globo!

As curvas do tempo
Revan
Ano: 1998
294 páginas
395g

Por meio do livro “As curvas do tempo” pode ser conhecida a versão de Niemeyer para tantos episódios da recente história brasileira. Nesse livro ficam revelados pontos essenciais da personalidade dele, no campo político e sua militância, no lado humano, a proteger e valorizar as pessoas, em geral e particularmente aquelas que com ele conviveram e conquistaram o seu gostar. 

Por exemplo, na página 98[4] ele fala de um amigo e parceiro, que passou por momentos dramáticos com o episódio da queda da cobertura do Parque de Exposições da Gameleira (Belo Horizonte – MG): Joaquim Cardozo, responsável de muitas das obras projetadas por Niemeyer. Faz a defesa, sutil, do amigo e poeta.

Mas, isso é história para outra postagem que, prometo, sobre a qual, voltarei a escrever.

Vale a pena ler o capítulo e o livro.



[1] Já procurei o vídeo no Youtube e não achei.
[2] Acho que a repórter era uma negra, de nome Ana ou Ângela Davis. Quem souber, ajude aí.
[3] Para conhecer outras "passarelas do samba", inspiradass no Sambódromo do Rio:  http://pt.wikipedia.org/wiki/Samb%C3%B3dromo
[4] O livro não é dividido em capítulos, não tem índice!