"Fracassei
em tudo o que tentei na vida.
Tentei
alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei
salvar os índios, não consegui.
Tentei
fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei
fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.
Mas
os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar
de quem me venceu".
São poucas as pessoas com as
quais eu já tenha prosado, por algumas poucas horas que seja, e não tenha me
ouvido discursar sobre Darcy
Ribeiro.
O meu discurso se
repete e afirmo, convicto, que meia dúzia de darcys faria do Brasil a maior
geleia geral, onde e quando todos seriam felizes, por decreto ou não. Nesse
Brasil de Darcy Ribeiro, seria proibida a tristeza e ficaria garantido, a
todos, o direito de se indignar quando bem entendesse.
O seu lado irônico e jocoso se
manifestou quando apoiou a volta do regime monárquico. Impôs uma condição: se o
novo/velho regime fosse adotado queria ser Rei do Brasil. Considerava-se
capacitado para tal e achava charmosa a ideia de ser rei. Dizia isso e ria,
muito. Prazeirosamente.
Darcy foi assim: brasileiro,
verdadeiramente brasileiro; um furacão de ideias; uma metralhadora ao falar; um
apaixonado pelas causas da educação, das questões indígenas; um sonhador. Uma
grande capacidade de fazer muitos amigos e poucos inimigos.
Em parceria com Oscar Niemeyer, tendo
como coadjuvante o Brizola,
criou o Sambódromo do Rio de Janeiro e os CIEP,
uma adaptação do modelo francês de educação básica; projetou, engendrou e foi o
primeiro Reitor da Universidade de Brasília; idem a Universidade Estadual do
Norte Fluminense (nome oficial Universidade
Darcy Ribeiro); um dos últimos feitos foi a LDB
(conhecida como Lei Darcy Ribeiro), em vigor que teve o seu dedo e a sua
relatoria.
O texto aprovado introduz
algumas novidades e avanços que, até hoje, encontram resistência dos grupos
conservadores e que fazem do ensino uma mera atividade comercial. Entre elas, a
qualificação mínima para a prática da docência, implicando em qualidade no
ensino e salários mais justos professores e carreiras correlatas. Mas, isso é
história para outra postagem...
Essa fixação no tema Darcy me
faz ler tudo que esteja disponível sobre ele. E não encontrei muita coisa, não.
Tem uma diferença entre o que ele escreveu e o que escreveram sobre ele. Eu,
particularmente, não li os romances que ele escreveu. Tenho todos, folheei e
guardei, pois acho que o forte, o bom mesmo foi quando ele escreveu O
povo brasileiro (um resumo aqui,
e aqui),
Confissões, Testemunho,
etc.
Recentemente ganhei um livro,
escrito pela Vera Brant. Estou acabando de ler (e, claro, junto com mais
outros três, como de costume).
Editora: PAZ E TERRA
Ano: 2002
Páginas: 144
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É um bom livro. Tem muitas
informações sobre o Darcy, mas não é uma biografia. Conta casos envolvendo um
monte de pessoas que se tornaram famosas por força de atividades políticas,
principalmente nos anos 50, 60 e 70.
Estou próximo do fim e fica a
impressão de que o livro é sobre a Vera e o seu relacionamento social, político
e de amizade com aquelas figuras, citadas ali atrás. Darcy Ribeiro entra no
livro como coadjuvante e pretexto para a Vera demonstrar o extenso círculo de
amizade, composto dos mais variados matizes, que conseguiu desenvolver.
Vou continuar, até terminar a
leitura, na expectativa de que saberei de mais algumas curiosidades e
fofoquinhas do Darcy e daquele período.
Vera Brant tem uma história
muito bonita e merece ser conhecida (saiba mais, lendo aqui, e aqui),
mas acho que o livro, simplesmente chamado de Darcy não é justo. Sugestão de
título para a próxima edição: Eu e Darcy.
O livro
está disponível no meu acervo e espero que não esteja “marcando um gol
contra”, fazendo propaganda negativa e prejudicando a sua venda. Para quem
gosta, conhece, ou quer começar a conhecer e gostar dele, é uma leitura importante.
Na pior das hipóteses, ficará sabendo alguma história de bastidor envolvendo as
principais personagens de um período recente do nosso passado político, o que
já justifica a leitura.
Para conhecer o que Darcy
Ribeiro publicou, clique aqui.